Linguagens
NARRADORES DE JAVÉ - ORALIDADE X ESCRITA
Narradores de Javé, filme brasileiro, lançado em 2003, retrata a história de um povo, os moradores do Vale do Javé, no sertão baiano. Esse povo tenta, através da oralidade, reconstruir sua história passada de geração a geração, com o objetivo de garantir sua existência no futuro, que se encontra ameaçada pela construção de uma barragem, a qual fará o povoado desaparecer em suas águas.
Diante desse problema, as figuras mais representativas da comunidade se reúnem para decidirem o que é possível fazer para reverter essa situação.
Ao buscar informações junto às autoridades, descobrem que a única saída seria a elaboração de um dossiê, que representasse o patrimônio histórico e que justificasse seu tombamento. Essa informação traz uma preocupação maior. Como elaborar esse documento, se a cultura dos moradores de Javé é apenas a oral? Assim, o povo resolve encarregar Antonio Biá, o antigo responsável pela Agência de Correios do povoado – cidadão pouco confiável, mas, o mais esclarecido do lugar, para ouvir as histórias dos moradores e a partir delas, escrever a história do povo do Vale do Javé.
O encarregado passa então a registrar a identidade histórica e cultural daquele povo, cada um relatando de acordo com a sua visão cultural e religiosa, porém preservando o fio condutor da história. Um fator agravante apresentado durante os relatos é o das relações de poder, todos querem ser descendentes diretos do colonizador Indalécio, tendo em vista seus grandes feitos heróicos.
Verifica-se, a complexidade que é “fazer calar uma linguagem viva e em movimento, para colocá-la em um documento estático e com única versão”. O distanciamento entre a rica oralidade partindo do imaginário daquele povo, e o registro escrito, faz com que o próprio escriba desista de realizar tal desafio. Dessa forma, inevitavelmente, as águas inundam Javé.
A trama nos leva a refletir sobre a grande diferença entre a linguagem oral e a escrita, sendo a primeira, facilmente manipulada pelo povo de Javé, e isso conseqüentemente é passado para a segunda, gerando o grande conflito da obra: “Como transformar os relatos das pessoas em algo verdadeiro, científico”?
O filme também faz uma referência ao progresso, mostrando que este se faz indiferente à história das pessoas e dos lugares. A grande essência da obra pode ser resumida em uma simples frase: “Fato escrito não é fato acontecido”. Narradores de Javé é um filme indicado para as pessoas que desejam além de entretenimento, conhecer um pouco mais sobre os conflitos gerados pela posição de poder da cultura letrada sobre a cultura popular oral.
Personagem principal: Antônio Biá
Personagens coadjuvantes: Zaqueu, Indalésio, Maria Dina
Narrador: Zaqueu ( narrador-personagem)
Tempo narrativo: passado
Edileuza da Cruz Maçaneiro
Professora Formadora – Linguagens – CEFAPRO/Alta FlorestaCronologia do ensino de
Língua Portuguesa no Brasil
1759
A Reforma Pombalina torna obrigatório no Brasil o ensino de Língua Portuguesa nas escolas. A intenção é transmitir o conhecimento da norma culta da língua materna aos filhos das classes mais abastadas.
1800
A linguagem é vista como uma expressão do pensamento e a capacidade de escrever é consequência do pensar. Na escola, os textos literários são valorizados, e os regionalismos, ignorados.
1850
A maneira unânime de ensinar a ler é o método sintético. As letras, as sílabas e o valor sonoro das letras servem de ponto de partida para o entendimento das palavras.
1860
Desde os primeiros registros sobre o ensino da língua, a escrita é vista independentemente da leitura e como uma habilidade motora, que demanda treino e cópia do formato da letra por parte do aprendiz.
1876
O poeta João de Deus (1830-1896) lança a Cartilha Maternal. Defende a palavração, modelo que mostra que o aprendizado deve se basear na análise de palavras inteiras. É um dos marcos de criação do método analítico.
1911
O método analítico se torna obrigatório no ensino da alfabetização no estado de São Paulo. A regra é válida até 1920, quando a Reforma Sampaio Dória passa a garantir autonomia didática aos professores.
1920
Inicia-se uma disputa acirrada entre os defensores dos métodos analíticos e sintéticos. Alguns professores passam a mesclar as ideias básicas defendidas até então, dando origem aos métodos mistos.
1930
O termo alfabetização é usado para determinar o processo inicial de aprendizagem de leitura e escrita. Esta passa a ser considerada um instrumento de linguagem e é ensinada junto com a leitura.
1940
As primeiras edições das cartilhas Caminho Suave e Sodré são lançadas nessa década, respeitando a técnica dos métodos mistos, e marcam a aprendizagem de gerações.
1970
A linguagem passa a ser vista como um instrumento de comunicação. O aluno deve respeitar modelos para construir textos e transmitir mensagens. Os gêneros não literários são incorporados às aulas.
1984
Lançamento do livro Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. A concepção de linguagem é modificada nessa década e influencia o ensino até hoje: o foco deveria estar na interação entre as pessoas.
1997
São publicados os PCNs pelo governo federal para todo o Ensino Fundamental, defendendo as práticas sociais (interação) de linguagem no ensino da Língua Portuguesa.
Fontes: Os sentidos da alfabetização, Maria do Rosário Longo Mortatti, SP: Unesp. 2000. - PCNs
Este quadro faz parte da reportagem O papel das letras na interação social.
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