REFLEXÕES SOBRE O LIVRO: PEDAGOGIA DA AUTONOMIA DE PAULO FREIRE
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996 ( Coleção leitura ).
Carlos Alberto Cardoso/CEFAPRO 2011
O livro Pedagogia da Autonomia foi escrito em 1996 e lançado pela editora Paz e Terra. Seu valor no mercado gira em torno de 20,00. Está organizado em 03 capítulos. O 1º discute a tese : “ Não Há docência sem Discência”. O 2º discorre sobre “Ensinar não é transferir Conhecimento” e o 3º capitulo apresenta fundamentos na proposição “Ensinar é uma Especificidade Humana. Os capitulos se desdobram num conjunto de 27 exigências necessárias no ato de ensinar. É um livro de formato pequeno, fácil de ser compreendido. O autor usa um vocabulário que oscila entre o nível acadêmico e o senso comum. Esta livro tem 148 páginas.
Paulo Reglus Neves Freire ou, simplesmente, Paulo Freire, nasceu no dia 19 de setembro de 1921 em Recife, estado de Pernambuco e faleceu como vítima de ataque cardíaco no dia 02 de Maio de 1997, em São Paulo, no Hospital Albert Einstein. Em 1963, ensinou mais de 300 adultos a ler e escrever, em 45 dias. Seu trabalho com as classes menos favorecidas se iniciou mais ou menos nos anos 40 e continuou sem interrupção até 1964.
Ficou exilado por motivo de perseguição política durante o Regime Militar do Brasil ( 1964-1980) e, nesse período, escreveu importantes obras, como Pedagogia do oprimido, Pedagogia da Esperança entre outras. Nessa trajetória de exilado, permaneceu 05 anos no Chile como Consultor da UNESCO. No ano de 1969, foi nomeado para trabalhar no centro de Estudos de Desenvolvimento e Mudança Social da Universidade de Harvard. Em 1970 foi para Genebra, na Suíça, trabalhar como Consultor do escritório de educação do Conselho Mundial de Igrejas, onde desenvolveu programas de Alfabetização para Tanzânia, Guiné Bissau.
As idéias de Paulo Freire revolucionaram o pensamento pedagógico na América Latina, Europa e África. Pena que esse entusiasmo pouco toca na arrogância e insensibilidade de muitos possuidores de diplomas no campo educacional e nos pseudo-representantantes do poder político-econômico- social deste pujante país chamado Brasil.
A obra Pedagogia da Autonomia aborda questões teóricas e práticas de quem educou com a experiência de vida, sensibilizado pela situação daquelas pessoas que viviam à margem da sociedade e não tiveram oportunidade, de fato e de direito, de aprender a ler e escrever. O discurso de Paulo Freire ecoava na pratica e sua prática constituiu –se em corpo teórico político-educacional difundido em vários países ( expressivamente no Brasil ).
Sem muito esforço intelectual, observa-se a visão Freiriana pautada nos princípios sócio-ideológicos de Karl Marx e sua ferrenha critica à política neoliberalista. Esta postura, faz de seu livro uma alusão sociológica da realidade sócio-educacional e econômica do País.
Um estudo cuidadoso desta obra chama-nos atenção para os princípios fundantes da educação humanista ou humanizadora. Isto é, tratar com respeito o ser humano e não tomá-lo como objeto, agir corretamente dentro dos parâmetros da ética. Aliás, ler não é estudar, é apenas um ponto de partida. Caso a leitura se findar em si mesma, fica comprometida a eficácia de um bom e proveitoso estudo. Quero dizer que, estudar é uma atividade intelectual comprometida em apreender e reaprender, por meio do objeto estudado, outras possibilidades de compreensão do mundo humano.
Há dois pontos importantes que merecem atenção no decorrer da leitura e estudo desta obra. Primeiro, ater-se cuidadosamente às exigências apresentadas e às condições de praticidades que o atual contexto educacional brasileiro nos aponta. Segundo, observar nas intrelinhas, quais são as exigências ou condições necessárias para efetivação da aprendizagem, do ponto de vista do aprendiz ( educando ). Ora, se “ não há docência sem discência, também ,não há “aprendizagem sem vontade e esforço em aprender”.Isto porque, a aprendizagem é um aspecto particular e se realiza no indivíduo de acordo com sua singularidade.
Além disso, o autor insiste em questões relevantes que constituem o alicerce da educação humanista com a pratica da ética, o exercício da crítica e o respeito aos saberes dos alunos e suas vivências. Discorre sobre o sentido do “Pensar Certo”e põe em evidência a necessidade de superação da curiosidade ingênua e o alcance da curiosidade epistemológica. Afirma categoricamente a necessidade de unir teoria e prática, pesquisa e ensino. Questiona entre outras coisas, as atitudes do professor e o ensino tradicional, baseado no puro repasse de conteúdos e nos alerta dizendo: “ o ensino dos conteúdos não pode ser separado da formação ética” ( p.94). Haja vista que ensinar é um ato político, um ato ético, pois quem ensina não pode se omitir.
Neste sentido, Paulo Freire afirma: “ Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição, uma tomada de posição, decisão, ruptura (...) não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da pratica educativa (...) sou professor a favor da decência, da liberdade, da democracia, da esperança que me anima apesar de tudo”.( p.102 )
(... ) “Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino dos conteúdos (...) tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los”.( p.103 ).
Penso que esta obra aponta os caminhos ideais para a mudança radical da prática educativa. Esta mudança depende muito de cada professor. O sentido da docência não é dado da experiência, é constituído a partir dela.
Em decorrência disto, considera-se que pensar a realidade, educar em consonância com ela sem projetar-se na perspectiva da mudança, a pedagogia da Autonomia se dilui no faz –de-conta da autonomia da pedagogia. Aliás, o próprio título da obra torna-se objeto de indagações, tais como: o que entendemos por pedagogia da autonomia? Como a pedagogia constrói a autonomia no processo educativo? Quais são os pressupostos que definem a autonomia dos sujeitos envolvidos no ensinar e aprender dialeticamente? Existe uma pedagogia da autonomia? E autonomia da Pedagogia?
Ensinar e aprender revela a complexidade do ser humano e sua especificidade na escala evolutiva. Neste contexto, vale à pena ler e estudar duas obras de renome na literatura atual: MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Editora Cortez, Brasilia, DF: UNESCO,2003 e ARDOINO,J. A complexidade. In: Edigar Morin. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
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