Avaliação da Educação em MT
ANTONIO CARLOS MÁXIMO
No início de 2003, acompanhado do sábio e experiente Gabriel Novis Neves – então, Secretário de Estado de Educação – apresentei para professores, coordenadores e diretores de escolas, em Sinop, os resultados do SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Na medida em que eu expunha os “slides” com as matrizes de competências e habilidades que os alunos deveriam dominar; na subseqüente apresentação dos resultados dos exames de matemática e língua portuguesa, sentíamos na sala um clima de indignação, raiva, curiosidade, choque.
Os professores, simplesmente, não acreditavam no que estavam vendo, não admitiam que aqueles resultados fossem verdadeiros. Disseram até mesmo que se tratava de invenção do governo para desmoralizá-los.
Diante do ambiente de revolta contida, Gabriel Novis usou de toda a sua carga de bom senso e psicologia médica para acalmar os educadores. Apesar do clima, foi uma experiência enriquecedora porque a reação dos professores indicava algo muito claro para o sistema de avaliação: eles, simplesmente, não se reconheciam nos resultados dos exames. Será que hoje eles se reconhecem?
Hoje, passados dez anos desse episódio, continuamos a acompanhar, de modo sistemático, por meio de pesquisas, os resultados - que não se alteraram.
A Educação de Mato Grosso continua da mesma forma como demonstramos em Sinop em 2003, abaixo da média nacional. Os alunos de Ensino Médio, por exemplo, não contam com professores habilitados em Química, Física, Sociologia, Filosofia, etc. Ainda que para as outras disciplinas o quadro não seja tão grave, essas quatro matérias são tocadas na base do improviso, por professores formados em outras áreas. E bastam essas quatro para derrubar os alunos no Enem – Exame Nacional do Ensino Médio.
E o agora o que mudou?
Depois de uma década, lamentavelmente, parece ter acabado a indignação dos professores com os resultados. Ninguém mais se choca com o fato, há uma resignação diante da tragédia. E isto sim é grave! Enquanto há indignação é possível sonhar, pois ela é mobilizadora. Quando, no entanto, tratamos com naturalidade aquilo que não é natural, perdemos as chances de melhora.
Disse-me o Gabriel que quando o doente se entrega, a doença monta de vez. E o nosso sistema educacional, desde a criação da República em 1889, padece de muitas doenças. Seriam elas doenças crônicas? Não creio. Todas são curáveis. Basta que, dos professores à presidente da República, todos queiramos trabalhar a favor da saúde do sistema educacional.
Aliás, para cumprir com a finalidade de avaliar os Sistemas de Ensino, o MEC poderia até economizar dinheiro e aumentar o intervalo de tempo entre um exame e outro. Se for repetido daqui a dez anos, e não se investir fortemente, na valorização e na formação intelectual dos professores, os resultados serão os mesmos.
Não se muda nada na escola sem tocar na sua alma – o corpo docente. Se ele não fizer ninguém o fará. E a serenidade com que os professores vêm recebendo os resultados dos exames de avaliação em larga escala é preocupante.
Podemos, inclusive, piorar nos próximos anos.
ANTONIO CARLOS MÁXIMO é doutor em Educação e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
No início de 2003, acompanhado do sábio e experiente Gabriel Novis Neves – então, Secretário de Estado de Educação – apresentei para professores, coordenadores e diretores de escolas, em Sinop, os resultados do SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Na medida em que eu expunha os “slides” com as matrizes de competências e habilidades que os alunos deveriam dominar; na subseqüente apresentação dos resultados dos exames de matemática e língua portuguesa, sentíamos na sala um clima de indignação, raiva, curiosidade, choque.
Os professores, simplesmente, não acreditavam no que estavam vendo, não admitiam que aqueles resultados fossem verdadeiros. Disseram até mesmo que se tratava de invenção do governo para desmoralizá-los.
Diante do ambiente de revolta contida, Gabriel Novis usou de toda a sua carga de bom senso e psicologia médica para acalmar os educadores. Apesar do clima, foi uma experiência enriquecedora porque a reação dos professores indicava algo muito claro para o sistema de avaliação: eles, simplesmente, não se reconheciam nos resultados dos exames. Será que hoje eles se reconhecem?
Hoje, passados dez anos desse episódio, continuamos a acompanhar, de modo sistemático, por meio de pesquisas, os resultados - que não se alteraram.
A Educação de Mato Grosso continua da mesma forma como demonstramos em Sinop em 2003, abaixo da média nacional. Os alunos de Ensino Médio, por exemplo, não contam com professores habilitados em Química, Física, Sociologia, Filosofia, etc. Ainda que para as outras disciplinas o quadro não seja tão grave, essas quatro matérias são tocadas na base do improviso, por professores formados em outras áreas. E bastam essas quatro para derrubar os alunos no Enem – Exame Nacional do Ensino Médio.
E o agora o que mudou?
Depois de uma década, lamentavelmente, parece ter acabado a indignação dos professores com os resultados. Ninguém mais se choca com o fato, há uma resignação diante da tragédia. E isto sim é grave! Enquanto há indignação é possível sonhar, pois ela é mobilizadora. Quando, no entanto, tratamos com naturalidade aquilo que não é natural, perdemos as chances de melhora.
Disse-me o Gabriel que quando o doente se entrega, a doença monta de vez. E o nosso sistema educacional, desde a criação da República em 1889, padece de muitas doenças. Seriam elas doenças crônicas? Não creio. Todas são curáveis. Basta que, dos professores à presidente da República, todos queiramos trabalhar a favor da saúde do sistema educacional.
Aliás, para cumprir com a finalidade de avaliar os Sistemas de Ensino, o MEC poderia até economizar dinheiro e aumentar o intervalo de tempo entre um exame e outro. Se for repetido daqui a dez anos, e não se investir fortemente, na valorização e na formação intelectual dos professores, os resultados serão os mesmos.
Não se muda nada na escola sem tocar na sua alma – o corpo docente. Se ele não fizer ninguém o fará. E a serenidade com que os professores vêm recebendo os resultados dos exames de avaliação em larga escala é preocupante.
Podemos, inclusive, piorar nos próximos anos.
ANTONIO CARLOS MÁXIMO é doutor em Educação e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
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