Da turma do fundão aos tímidos: pesquisa mostra tipos de alunos


Segundo especialistas, é importante que o professor "entenda" o perfil dos seus alunos para aumentar o rendimento da turma

Foto: Ilustração/Diego Medina/Terra

A patricinha, o roqueiro, o sonolento, a estudiosa. Os tipos de alunos encontrados em uma escola já foram retratados com humor em filmes adolescentes e em videoclipes musicais, mas agora pesquisadores da Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) traçaram um perfil psicológico de 51 mil pessoas que deve servir para que os professores "entendam seus alunos".

Fazendo uso de um questionário online (www.temperamento.com.br), os estudiosos analisaram o perfil de pessoas com idades entre 11 e 32 anos. Médico psiquiatra e professor titular da Faculdade de Biociências da PUCRS, Diogo Lara aplicou os resultados obtidos em uma sala de aula e concluiu que, dentro de um ambiente de ensino, existem quatro perfis de estudantes: estáveis, internalizados ou inibidos, instáveis e externalizados.

De acordo com ele, esses perfis são baseados em características pessoais e sentimentos que se manifestam no indivíduo durante uma aula, seja da escola ou da faculdade. "Os tipos são determinantes para o sucesso ou fracasso do ensino. O desafio do professor é se adequar aos seus estudantes para aumentar o rendimento da turma", diz.

O perfil predominante em uma escola são os estáveis, que compreendem 30% da população escolar. "Eles são perfeccionistas, bem dispostos e têm perfil de liderança. É o grupo mais fácil de trabalhar, pois se adaptam a diferentes tipos de atividades com facilidade", explica Lara. Contudo, o mesmo não acontece com os internalizados ou inibidos, que representam de 20% a 25% dos estudantes e possuem características como timidez e depressão. Eles lidam bem com aulas expositivas, mas não gostam de trabalho em grupo. Além disso, participam pouco da aula.

Os conhecidos como "galera do fundão", também foram identificados na pesquisa, em que receberam a denominação de instáveis e representam de 20% a 25% dos alunos em uma sala de aula. Possuindo comportamentos como alternância de humor e agitação, esse grupo tende a não lidar bem com regras e ensinamentos monótonos. Segundo o psiquiatra, os professores devem ser pacientes com este grupo e saber conversar. Aulas interativas são bem recebidas por eles.

Por fim, existem ainda os externalizados, que também se sentam no fundo da sala e representam de 20% a 25% dos estudantes. Conforme o estudo, eles são desinibidos e não gostam de aulas formais, preferindo atividades dinâmicas e esportivas, nas quais possam descarregar energia. Lara explica que a diferença deste grupo para os instáveis está na forma como lidam com conflitos. "Os instáveis se magoam, e os externalizados passam para a briga", define. Ou seja, os grupos externalizados e instáveis, que juntos representam 40% dos estudantes, não aprendem com o tipo de aula mais usada nas escolas: as expositivas.

O pesquisador explica que o estudo comprova que o sucesso em sala de aula depende da capacidade do professor de saber ler seus alunos e variar os tipos de exercícios para atingir todos os grupos. "Em uma sala de aula, sempre vai existir os quatro perfis. Mas se houver predomínio de algum tipo, o professor deve se adaptar para dar aulas em um estilo que se encaixe mais com a maioria. Por exemplo: dar aulas mais dinâmicas e interativas em uma turma com mais instáveis e externalizados", recomenda.

Observação e intuição do professor ajudam a identificar perfis
Para os professores que desejam reconhecer os perfis dos seus alunos, Lara sugere analisar o local onde os estudantes costumam sentar. Os estáveis, por exemplo, preferem as mesas no centro ou na frente da sala. Os Inibidos, geralmente, escolhem as cadeiras da frente, e os externalizados e instáveis se reúnem nas classes do fundo. "Normalmente, os educadores conseguem perceber isso por intuição e observação. A questão é saber se eles estão trabalhando com essa diversidade", diz.

Ou seja, segundo sugere o psiquiatra, não é preciso usar metodologia científica para identificar os diferentes tipos de alunos em uma aula. Com sensibilidade, alguns professores fazem suas próprias definições de perfis e trabalham a partir disso.

O professor universitário Arievaldo Alves de Lima, da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, tem o costume de observar muito seus alunos nos primeiros dias de aulas e realizar atividades interativas seguidas de alguns questionários. O objetivo do educador de Ciências Contábeis é traçar o perfil de seus estudantes para saber qual o tipo de aula será mais eficaz para cada um deles. "Cada um tem o seu modelo próprio de ação e recepção do aprendizado, e o professor precisa compreender isso", afirma.

Lima conta que passou a ter essa sensibilidade somente depois que se formou em Pedagogia. Devido a anos de experiência e observação, o professor também traçou quatro perfis de alunos. O primeiro grupo é o que Lima chama de diplomatas: "Esse aluno prefere trabalhar com pessoas a lidar com informação escrita; prefere estudar em grupo e gosta de atenção especial do professor". Também existem os burocratas, que gostam de trabalhar sozinhos com leituras, textos e exercícios. "Esse grupo tende a rejeitar atividades subjetivas, pois eles dão valor à informação documentada que faz com que tenham controle de seu estudo. Além disso, eles costumam pensar muito antes de falar, o que resulta em uma baixa participação em sala de aula", afirma Lima.

Outro perfil de estudante observado pelo professor são os práticos, que preferem que a aula vá direito ao ponto, sem ações paralelas. "Eles gostam de realizar exercícios e preferem trabalhar sozinhos. Minha dica para trabalhar com eles é abusar de listas como, cinco regras para acentuar bem, três axiomas de probabilidade, etc.". Contudo, este tipo de exercício não irá funcionar para os radicais, que respondem a aulas cheias de novidades e interatividades. "Eles basicamente são a turma do fundão e se interessam por aulas em power point, com vídeos e cheias de histórias ilustrativas e curiosas", ensina.

A professora de inglês e espanhol da Escola de Idiomas CCAA, de Diadema (SP), Zailda Coirano, define seus alunos pela motivação de cada um deles para estar ali. Ela afirma perceber que alguns alunos são motivados pela vontade de serem os melhores da turma e ser reconhecidos por isso, outros, somente pelo desejo de fazer amigos e serem aceitos pelo grupo. Um último grupo é o que ela chama de individualistas, são preocupados com o conteúdo em si e com sua própria compreensão e aprendizagem.

"Quando um aluno está com dificuldades, por exemplo, eu vou incentivá-lo de acordo com sua motivação. Se ele for individualista, vou dizer que ele deve melhorar para não rodar, por exemplo. Já se ele for preocupado com o grupo, vou usar o argumento de que ele precisa estudar para acompanhar os colegas", ensina, destacando que percebeu um maior rendimento dos alunos quando passou a trabalhar dessa forma.

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